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Notícias, imagens e vozes que retratam a actualidade florentina. Projecto desenvolvido por Susana Soares, repórter residente da RTP/Açores na ilha das Flores.
Antes de abordar o tema a que me propus, em primeiro lugar quero felicitar a Dr.ª Susana Soares pela criação deste importante blogue sobre a Ilha das Flores. Virá certamente diminuir muito a distância da Ilha, nomeadamente para os ‘emigrantes’ como eu. Por mim, colaborarei sempre que possível, dentro das minhas modestas possibilidades.
Para inaugurar a entrada no Blogue, falarei um pouco sobre as saudades que vou sentindo na ausência da Ilha, com um texto por mim elaborado há já algum tempo, agora aqui modificado.
Desde muito cedo a vida me ensinou a saudade e a ausência. Saí das Flores aos 11 anos de idade. Na Ilha havia nesse tempo apenas um pequeno colégio, com muita carência de professores. O Liceu de Angra, esse tinha bons mestres e dava formação para todos os ramos da ciência. Assim se decidiu a minha sorte…
Quem parte transporta sempre a Ilha no coração. Cada visita que fazia às Flores procurava de lá trazer alguma coisa que lembrasse aquele torrão sagrado. E por toda a minha casa estão dependuradas aquelas grandes e lindas fotografias da Ilha tiradas pela grande angular do sr. Padre José Alves Trigueiro, que teve a amabilidade de me ceder. Cada vez que as miro é como se o pensamento se libertasse e na Ilha poisasse.
No quintal crescem a olhos vistos os araçaleiros trazidos da nossa quinta da Tronqueira. Os araçás já estão a acabar por esta altura, este ano produziram quase dez quilos. Por cá dá-se muito bem a espécie que produz o araçá vermelho, carrega todos os anos. O araçaleiro amarelo é mais esquisito e reage muito mal à geada.
No pequeno quintal há um espaço com algumas plantas de inhame. Embora as suas copas (folhas) não resistam à geada, na primavera rebentam novamente e já consegui colher inhames com cerca de um quilo. Asseadíssimo!!...
No relvado, por entre a erva, despontam o poejo e a macela, trazidos das terras do mato. Quando se acariciam libertam um perfume que nos transporta para as tapadas[1] longínquas, na recordação da infância. As hortênsias, floridas, pintam o resto do jardim com cores do azul ao vermelho e transparecem também com um pouco do seu característico perfume.
A criptoméria, essa, coitada, trazida há muitos anos num pequeno vaso, descuidadamente plantada, cresceu tanto que já ameaçava destruir os fios do telefone e da eletricidade — com muita pena nossa, teve que ser abatida.
[1] Relvas do interior da Ilha, junto ao mato.
Este ano, pela primeira vez, resolvi fazer a nossa linguiça, com receita dada por minha mãe. Depois de devidamente temperada durante três dias, foi mais outros três ao fumeiro do vizinho, e ficou com um sabor muito semelhante à nossa linguiça tradicional. Bonzíssimo!!...
No meio destas recordações, por aqui vou vivendo. E aqui estou, mais uma vez à espera do verão…
Mesmo assim acompanhado, às vezes, naqueles dias mais nublados, se a saudade da Ilha teima em insistir, para afugentá-la, abraço a viola de dois corações e canto aquelas quadras de outrora, no rasgado da Chamarrita…