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Notícias, imagens e vozes que retratam a actualidade florentina. Projecto desenvolvido por Susana Soares, repórter residente da RTP/Açores na ilha das Flores.
Autora: Gabriela Silva
Apenas 142 km2 de superfície. Uma ilha perdida no atlântico onde vivem menos de 4000 pessoas.
Podia ser o começo de um qualquer trabalho de investigação sobre a ilha das Flores! Há quase sessenta anos que vivo nela, que escrevo sobre ela e, todos os dias, sou animada por novas facetas deste caleidoscópio que é a ilha das Flores.
Ainda não se sabe se é a sua beleza esplendorosa, se a rigidez de um clima de uma instabilidade dolorosa ou a distância que a separa do mundo que fazem desta ilha, uma das mais procuradas dos Açores. Acreditamos que todos são ingredientes desta poção mágica que faz da ilha o cenário ideal para um conto de fadas ou para o mais animado triller de ação ou terror. Efetivamente, tudo pode acontecer no meio deste verde de mil tons e deste mar encapelado que conta histórias novas em cada maré.
Os homens e mulheres das Flores sempre tiveram que viajar muito. No início foi a baleia, sustento de muitas famílias, a seguir foi a emigração a salto nas baleeiras que adivinhavam as "Califórnias perdidas de abundância”. E se é verdade que viajar é crescer, o florentino dos finais do século XIX era intrépido e arguto.
Parece que herdamos dos nossos antepassados muitas dessas raras virtudes de coragem e inteligência. Não foram poucos os florentinos que se distinguiram aqui e além, neste mundo de Deus, onde fizeram história. Muitos, não voltaram à ilha mas falam dela na distância descrevendo ainda os cheiros e os sons como se estivessem escritos nas suas vísceras. Na poesia de Alfred Louis e de Pedro da Silveira, a ilha “cheira”, quer no odor das flores, quer na gastronomia típica que levaram nas papilas gustativas.
O tempo mudou muitas das nossas opções. Felizmente deixou intacta a beleza deslumbrante que nos torna cartão-de-visita para o mundo. A ilha de hoje tem menos gente mas alberga muitos sonhos. Tornou-se também ilha de adoção de muita gente de outros países que aqui encontraram tudo aquilo que muita gente procura por esse mundo fora: água abundante, paz, segurança e um clima ameno. Parece estranho que se fale deste clima neste tom mas a verdade é que, comparado com o clima do norte da Europa, o anticiclone dos Açores é uma referência abençoada.
A ilha está dotada de infraestruturas excelentes: rede de águas e esgotos, recolha seletiva de lixo e estação de tratamento, luz elétrica, rede viária recente e excelente, estruturas para a prática do desporto, bibliotecas, zonas de lazer, serviço de saúde público e gratuito para todos, escolas até ao final da escolaridade obrigatória, instalações desportivas e condições para a prática do desporto, zonas balneares e piscinas naturais, cafés e restaurantes em quantidade suficiente, serviços públicos, porto, aeroporto, etc, etc, etc.
Mas é claro que viajar é fundamental para o florentino. E isso torna ainda mais verdade que a ilha é um lugar especial no mundo. Quando saímos e tomamos contato com outras realidades, apreciamos ainda mais aquilo que temos e valorizamos esta paz que gostaríamos muitas vezes de mudar mas que sabemos conscientemente que é o nosso maior tesouro.
A insatisfação é também e sempre uma forma de crescimento. Não fosse o sentimento indeterminado de ansiedade e a história não se teria povoado de tantos nomes ilustres. A obra-prima tem que ter a sua dose de ansiedade, de medo e de insatisfação.
Está aqui um blogue de informação e formação, de notícias e sugestões, de recolha de opiniões e de estudo.
Grata pelo convite para participar neste espaço de debate, prometo trazer à liça o que de melhor se faz nesta porção de terra onde a imaginação vale mais do que o medo.